Apresento abaixo interessante artigo de Pedro Sousa Tavares, publicado no Diário de Notícias de ontem, Domingo 12/08, sobre a evolução do ensino da língua portuguesa, na Extremadura, em contraponto com o que não acontece na Galiza, país que naturalmente, pelas afinidades que escuso de enumerar deveria liderar o fomento do ensino do português em Espanha.
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Extremadura abre 101 cursos de Português
por PEDRO SOUSA TAVARES, Diário de Notícias
Região espanhola já tem mais de 9000 estudantes da língua portuguesa
Por interesse comercial ou simples curiosidade pelos vizinhos, o resultado é o mesmo: a língua portuguesa está a tornar-se num verdadeiro fenómeno de popularidade na região espanhola da Extremadura.
Em pouco mais de uma década, desde 1996, o número de inscritos em cursos, públicos e privados, do ensino primário ao superior, passou de pouco mais de 600 para cerca de 9000. E a aposta, tudo o indica, é definitivamente para manter: no próximo ano lectivo, no âmbito da cooperação com Portugal, vão abrir mais 101 cursos, que deverão responder à procura de mais um milhar de alunos, em localidades como Badajoz, Cáceres, Mérida e Plasencia.
Os primeiros passos deste "namoro" foram dados no final dos anos 80, quando a Faculdade de Letras de Badajoz abriu o primeiro curso de Filologia Portuguesa, sendo seguida, pouco depois, pela Escuela Oficial de Idiomas, na mesma cidade. Hoje, a região assegura mais de 66% do ensino da língua em Espanha, muito à frente de outras comunidades fronteiriças, como por exemplo a Galiza.
E o português vai muito além das salas de aula. Está presente em programas de rádio bilingues, emitidos pela cadeia Onda Cero, na delegação local do Instituto Camões e até nos jornais portugueses, que muitos estremenhos lêem diariamente com um renovado interesse.
"Comércio não é tudo"
"Durante muitos anos, fomos vizinhos e não desfrutámos disso", diz ao DN Montaña Hernandez, directora do Instituto de Iniciativas Transfronteiriças da Junta Autónoma da Extremadura. "Quando fizemos esta aposta no português foi na consciência de que havia um factor de proximidade de que devíamos desfrutar. Há um grande interesse pela cultura portuguesa. E ele só vai aumentar."
O aspecto económico desta relação é obviamente um factor de peso. Diariamente, muitos portugueses atravessam a fronteira em busca de serviços que não encontram na sua região, ou simplesmente para ir ao supermercado ou abastecer o depósito do automóvel poupando alguns euros.
"Há um grande intercâmbio entre a Extremadura e Portugal. Somos visitados por muitos portugueses, que vêm cá fazer compras, visitar o médico, e é verdade que é sentida essa necessidade de melhorar a comunicação", diz. "Saber ler e escrever em português, atender telefones em português são aspectos valorizados no mercado de trabalho." Aliás, conta, "alguns dos cursos que vamos abrir são direccionados para grupos específicos: na hotelaria, na polícia, nos corpos de saúde".
Porém, assegura, o "comércio não é tudo". Quando muito, o crescente fluxo de portugueses terá sido o ponto de partida para uma relação de proximidade que "só tenderá a aumentar" nos próximos anos.
"Os estremenhos têm um grande interesse pela cultura portuguesa, porque é uma cultura muito diferente da nossa mas que está próxima", explica. "Vendem-se aqui jornais portugueses, ouvem-se as notícias de Portugal, porque as pessoas gostam de saber o que se passa. E quem aprende português", explica, "sabe que, fazendo umas dezenas de quilómetros, terá a oportunidade de aplicar esse conhecimento visitando um país que está mais próximo do que muitas regiões espanholas. Afinal, o Aeroporto de Lisboa fica mais próximo de nós do que o de Madrid".